Por que a indústria de leite vê a demanda como ponto de atenção em 2025
08, janeiro, 2025Foto: Rubens Neiva/Embrapa
A cadeia de produção de leite começa 2025 com a perspectiva de diminuição das importações e quadro climático mais favorável, o que anima laticínios e pecuaristas. O cenário é bem mais positivo do que o de anos anteriores, quando cresceram as compras de matéria-prima do exterior, especialmente de Argentina e Uruguai, e sucessivas estiagens em importantes Estados produtores reduziram a oferta de matéria-prima e afetaram a produtividade no campo. Isso não significa, no entanto, que o segmento terá vida fácil nos próximos 12 meses.
Neste ano, o aumento dos preços dos lácteos no mercado internacional e a desvalorização do real devem enxugar as importações brasileiras de lácteos, que bateram recorde no país em 2024.
“Para a indústria nacional, isso é bastante bom porque o produto importado estava entrando com muita força no Brasil”, afirma Valter Galan, sócio da Milkpoint. “Os preços que Uruguai e Argentina praticam subiram e estão mais próximos dos preços que vemos no Brasil. Isso, somado a uma taxa de câmbio mais elevada, provavelmente reduzirá a importação”. Segundo levantamento da consultoria, os valores, que eram de US$ 3,7 mil a tonelada em agosto, subiram para US$ 4,1 mil no fim do ano.
De janeiro a novembro de 2024, o Brasil importou 252,5 mil toneladas de lácteos, especialmente de Argentina e Uruguai, de acordo com as estatísticas do Ministério da Agricultura. O volume é pouco superior ao do mesmo período de 2023, quando as importações somaram 251,9 mil toneladas, mas 60% maior do que as 151,2 mil toneladas do intervalo entre janeiro e novembro de 2022.
O aumento expressivo das importações levou o segmento a pedir a abertura de investigação sobre a possível prática de dumping por parte de Argentina e Uruguai. O governo brasileiro atendeu a solicitação no início de dezembro.
Se o virtual declínio das importações anima produtores, que terão menos concorrência, e indústrias, que não precisarão recorrer a um produto que já não tem custo competitivo como em anos recentes, ele vai reduzir a oferta do produto no mercado interno. Esse desdobramento pode encarecer o produto final — e o segmento já detectou que os consumidores estão resistentes a pagar mais pelo leite e seus derivados.
“Devemos ter um começo de ano mais difícil para consumo do que tivemos em 2024”, observa Galan. A inflação de leite e derivados medida pelo IPCA foi de 10,24% nos 12 meses até novembro, mas, no caso do leite longa vida (UHT), os preços subiram 20,38% nesse intervalo, quando a inflação no país foi de 4,87%.
No campo, há uma boa notícia, mas com desdobramentos que preocupam os pecuaristas. A novidade positiva é que, no momento, não há previsão de grandes problemas climáticos para a atual temporada. Com clima favorável, a produção nacional deve crescer, o que tende a pressionar as margens dos produtores, que tiveram um respiro no ano passado. Em 2024, o preço médio pago ao produtor de leite subiu 38%, para R$ 2,8065 o litro, de acordo com o Cepea.
Fonte: Globo Rural, São Paulo, 06 Janeiro, 2025, por Cleyton Vilarino