Escala cresce, pequenos saem: o retrato do leite no RS em 2025

11, setembro, 2025
Escala cresce, pequenos saem: o retrato do leite no RS em 2025

Segundo os dados divulgados, a produção anual gaúcha passou de 3,83 bilhões de litros em 2023 para 3,84 bilhões em 2025, um crescimento de apenas 0,2%.

No mesmo período, o número de estabelecimentos que comercializam leite cru para a indústria ou processam em agroindústrias legalizadas caiu de 33.019 para 28.946 – uma redução de 12,3%. Há dez anos, eram mais de 84 mil propriedades.

Menos produtores, mais escala

O rebanho leiteiro do Estado também encolheu: de 769.812 vacas em 2023 para 742.578 em 2025, queda de 3,5% (27,2 mil animais a menos). Ainda assim, a produção se manteve. Isso se explica pela maior escala das propriedades que permanecem ativas.

A média de vacas por estabelecimento praticamente dobrou em uma década, passando de 13,95 para 25,65 cabeças. Já a produtividade média por vaca subiu de 11,8 para 17 litros diários, e o volume médio por propriedade saltou de 137,1 para 363,8 litros/dia.

“O menor número de produtores, com rebanhos menores, consegue produzir a mesma quantidade de leite. Isso mostra a saída do pequeno e a permanência do produtor mais tecnificado“, avaliou Jaime Ries, assistente técnico estadual de Bovinocultura Leiteira e coordenador da pesquisa pela Emater/RS-Ascar.

Impacto econômico e social

Mesmo sem expansão significativa no volume, o leite segue como um dos principais pilares da agropecuária gaúcha. O Valor Bruto da Produção (VBP) alcança R$ 9,5 bilhões ao ano, sendo o quinto produto em importância econômica no Estado, atrás apenas de soja, arroz, frango e suíno.

“Esse dinheiro entra de forma distribuída em centenas de municípios, movimentando economias locais”, destacou Ries.

A atividade está presente em 451 municípios, mas 85,5% dos produtores e 86,1% da produção para industrialização se concentram em 273 cidades, principalmente no Vale do Caí, Planalto, Alto Uruguai, Nordeste e Celeiro. Além disso, 111 municípios contam com agroindústrias legalizadas, que somam 173 estabelecimentos.

Desafios: sucessão e consumo interno

Entre as razões apontadas para a saída de milhares de produtores estão a rentabilidade limitada e a falta de sucessão familiar. “Independente do porte da propriedade, muitas vezes o filho não quer ficar na atividade”, observou Ries.

Outro desafio citado é a necessidade de fortalecer o mercado interno: atualmente, 40% a 50% do leite produzido no RS é destinado a outros estados, aumentando os custos logísticos. “Precisamos investir em estratégias de distribuição e estimular o consumo interno”, afirmou o extensionista.

Políticas e apoio setorial

O relatório foi apresentado com a presença de representantes do governo estadual, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e de entidades do setor, como o Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat).

Para o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, “a atividade leiteira é fundamental para a economia e para a função social no campo. Precisamos unir esforços para fortalecer a agricultura familiar”.

Entre as iniciativas em curso, destaca-se o programa Bônus Mais Leite, que concede apoio financeiro aos produtores afetados por eventos climáticos e incentiva a agroindustrialização no âmbito do Plano Safra 24/25, via Pronaf.

O diretor geral da Secretaria da Agricultura, Márcio Amaral, enfatizou a importância de “pesquisa, Extensão Rural e políticas públicas para garantir renda e estimular a permanência no campo”. Já o superintendente regional do MDA, Milton Bernardes, defendeu “debates estruturados para encontrar modelos produtivos sustentáveis”.

Um retrato de uma década de mudanças

Completando dez anos em 2025, o Relatório Socioeconômico se consolidou como um importante diagnóstico da cadeia leiteira gaúcha. Para Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater/RS, ele “traz rumos e propósitos, sendo um retrato quase completo da produção de leite no Estado”.

Os dados finais serão disponibilizados no site da Emater/RS-Ascar e enviados a cooperativas, indústrias e entidades representativas do setor.

Fonte:  Dairynews, 08 de setembro de 2025