Mercado Futuro do Leite ganha força diante do impacto das importações

14, novembro, 2025
Mercado Futuro do Leite ganha força diante do impacto das importações

O debate sobre mercado futuro do leite voltou ao centro da agenda do agronegócio brasileiro após uma audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, em Brasília, reunindo lideranças políticas, representantes das entidades do setor e parlamentares de diversos estados. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) marcou presença e reforçou que a previsibilidade de preços é hoje uma das maiores urgências para uma cadeia que enfrenta sucessivas crises.

Durante sua fala, o vice-presidente da Faesc, Clemerson Argenton Pedrozo, destacou que o leite é um motor econômico para centenas de municípios brasileiros. “Quando o setor vai mal, a economia local também sofre”, afirmou, ao enfatizar que o impacto da instabilidade recai especialmente sobre pequenos e médios produtores. O dirigente elogiou a mobilização política catarinense e reforçou que muitos parlamentares presentes conhecem o problema de dentro das porteiras, pois são produtores de leite.

Pedrozo também defendeu que a criação de um mercado futuro do leite representa um passo essencial para fortalecer a competitividade nacional. Ele citou o estudo técnico elaborado pela CNA, que confirma a viabilidade dessa ferramenta como alternativa para mitigar riscos de mercado e reduzir a volatilidade que afeta toda a cadeia produtiva.

Além disso, o vice-presidente da Faesc lembrou a importância do manifesto conjunto apresentado pelo Conseleite de Santa Catarina — um documento que unifica indústrias e produtores em torno de preocupações comuns, especialmente diante das importações em alta e da queda da rentabilidade nas propriedades. Segundo ele, prefeitos, vereadores e deputados têm procurado a Federação diariamente em busca de soluções conjuntas. Uma nova audiência será realizada na Alesc, reforçando o esforço estadual para pressionar por ações mais rápidas.

Pressão por medidas antidumping

Um dos temas centrais da audiência foi a investigação sobre práticas de dumping na importação de lácteos. O assessor técnico da CNA, Guilherme Dias, explicou o histórico do processo e criticou a decisão preliminar do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que passou a considerar que o leite in natura não é similar ao leite em pó. Com isso, os produtores ficaram fora da proteção prevista nos mecanismos de defesa comercial.

Para Dias, essa mudança compromete a segurança jurídica do setor e enfraquece a capacidade de reação diante de práticas desleais de comércio. Ele lembrou que, após o pedido de direitos antidumping em março de 2025, as importações de leite em pó caíram 16% no mês seguinte. Porém, logo após a decisão desfavorável ao pleito da CNA, houve um salto de 28%.

“É uma evidência clara de que medidas antidumping têm eficácia imediata. Os produtores in natura são os verdadeiros prejudicados e precisam ser protegidos”, afirmou. A CNA já apresentou novas provas ao processo, contratou pareceres internacionais e solicitou formalmente a reconsideração da decisão. Enquanto o governo analisa o caso, as importações seguem pressionando os preços pagos ao produtor, com expectativa de novas quedas até o fim do ano.

Mercado futuro como ferramenta estrutural

Além das ações emergenciais contra o dumping, o debate buscou avançar em soluções estruturantes. Nesse contexto, a criação de um mercado futuro do leite brasileiro aparece como a principal aposta para garantir previsibilidade e reduzir a vulnerabilidade da cadeia às oscilações externas.

Dias destacou que a CNA criou, em 2024, um Grupo de Trabalho reunindo representantes da produção, cooperativas e indústrias para construir a modelagem dessa ferramenta de gestão de risco. O objetivo é permitir que produtores possam travar preços, proteger margens e tomar decisões com base em indicadores transparentes.

Segundo especialistas presentes na audiência, um contrato futuro — operado em bolsas ou plataformas autorizadas — poderia desempenhar papel semelhante ao que já ocorre com soja, milho, boi gordo e commodities energéticas. A diferença é que, no setor lácteo, o mercado ainda é incipiente, o que traz desafios, mas também oportunidades.

Alinhamento nacional

Também na terça (4), a Comissão responsável pelo tema se reuniu com Federações Estaduais de Agricultura e Pecuária para discutir estratégias de enfrentamento ao cenário atual e pressionar pela revisão da decisão preliminar do MDIC. Lideranças reforçaram que práticas desleais de comércio prejudicam diretamente os pequenos produtores, que não conseguem competir com leite importado a preços artificialmente baixos.

Para o setor, a criação do mercado futuro — combinada com ações firmes contra o dumping — será decisiva para garantir sustentabilidade à produção doméstica, proteger empregos e fortalecer a segurança alimentar brasileira.

Fonte:  eDaiaryNews,  com informações da CNA Brasil, 14 nov 2025