Produção global de leite cresce pouco e comércio internacional recua, diz FAO
27, junho, 2025
Mesmo com leve aumento na produção global, o comércio internacional de lácteos deve recuar em 2025, segundo a FAO. Preços altos e menor oferta exportável impõem novos desafios à indústria leiteira.
Apesar da expansão modesta da produção mundial de leite, o comércio internacional do setor deve recuar em 2025. É o que revela o relatório Food Outlook da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado neste mês, com projeções para as principais commodities alimentares do mundo.
Expansão láctea em ritmo lento
A produção mundial de leite deverá crescer apenas 1% em 2025 — repetindo o ritmo mais lento registrado no ano anterior. Esse avanço modesto ocorre em meio à desaceleração de investimentos na cadeia leiteira, altos custos de insumos e uma demanda global que ainda não retomo plenamente os níveis anteriores à pandemia.
Nos mercados emergentes, como o sudeste asiático e partes da África, o consumo de lácteos ainda cresce, mas de forma desigual. Já em economias maduras, como Europa e América do Norte, a inflação persistente e as mudanças nos hábitos de consumo têm impactado a demanda por produtos como leite fluido, manteiga e queijos finos.
Comércio internacional em queda
A grande surpresa negativa para o setor é a expectativa de queda de 0,8% no comércio internacional de lácteos em 2025. A redução está atrelada a dois fatores principais: menor disponibilidade exportável, especialmente em países tradicionais como Nova Zelândia e Argentina, e preços internacionais ainda elevados, que comprimem o apetite dos compradores.
No caso do Brasil, que tem ampliado sua participação nas importações de leite em pó e queijos, o recuo global pode significar menos opções de origem e, consequentemente, maior dependência da produção local — que ainda enfrenta desafios estruturais, como a volatilidade dos custos de produção e a falta de políticas públicas eficientes
Os mercados exigem cada vez mais informações sobre origem, bem-estar animal e impacto ambiental dos produtos lácteos. Nesse sentido, quem conseguir aliar eficiência produtiva com transparência e inovação terá vantagem competitiva real — mesmo num contexto global de crescimento modesto e margens pressionadas. (Fonte: eDairynews, 24 jun 2025 baseado em FAO – Food Outlook, junho de 2025)
Brasil amplia compras de lácteos do Chile: por que isso chama atenção no mercado?
As exportações chilenas de lácteos para o Brasil alcançaram, em 2024, um aumento expressivo de 177% em relação ao ano anterior.
O Chile está se posicionando de forma cada vez mais relevante no mapa dos exportadores de lácteos para o Brasil. Segundo dados oficiais do Consorcio Lechero, as exportações chilenas de produtos lácteos para o mercado brasileiro alcançaram, em 2024, um total de 20,7 milhões de dólares, o que representa um aumento expressivo de 177% em relação ao ano anterior.
É a primeira vez que o Chile ultrapassa a marca de 20 milhões de dólares em vendas de lácteos ao Brasil.
O que o Brasil está comprando do Chile?
O principal produto adquirido pelo Brasil é o leite em pó, que representa quase a totalidade das compras brasileiras no setor lácteo chileno. Em 2024, o Brasil importou aproximadamente 19,7 milhões de dólares em leite em pó produzido no Chile, o que equivale a 36,7% de todo o leite em pó exportado pelos chilenos no período.
Além do leite em pó, o Brasil comprou em menor volume outros derivados, como preparados alimentícios infantis, mas em valores ainda pouco expressivos quando comparados ao leite em pó.
Chile quer crescer como fornecedor dos brasileiros?
Apesar de o Chile ainda ser um fornecedor secundário no mercado brasileiro quando comparado a grandes players tradicionais como Argentina, Uruguai, o crescimento acelerado nas exportações para o Brasil revela uma estratégia clara de inserção.
O Chile conta com vantagens competitivas, como a proximidade geográfica e a capacidade de oferecer produtos com alto padrão de qualidade, fatores que favorecem os negócios com o Brasil, especialmente em momentos de déficit na produção interna ou alta de preços no mercado nacional.
O setor lácteo chileno registrou em 2024 um dos melhores desempenhos de exportação da história recente, alcançando um total de 261,1 milhões de dólares em vendas internacionais, com crescimento de 16% sobre o ano anterior e de 38% em volume, medido em litros equivalentes.
Impacto para o mercado brasileiro
O crescimento das importações de lácteos chilenos, em especial de leite em pó, pode funcionar como um alívio para o abastecimento interno, mas também serve de alerta para a indústria brasileira, que já enfrenta pressão de importações vindas da Argentina, Uruguai e de outros mercados.
Além disso, a entrada mais agressiva do Chile no fornecimento de leite em pó pode impactar segmentos sensíveis, como a produção local de leite destinado à secagem e derivados, dependendo da competitividade dos preços internacionais.
O Brasil é conhecido por ser um grande consumidor de produtos lácteos e, em determinadas épocas do ano, precisa complementar sua oferta com importações. Essa dinâmica cria oportunidades para países exportadores e pressiona o setor produtivo interno a buscar maior eficiência e competitividade.
Cenário em evolução
O avanço do Chile como fornecedor para o Brasil é um movimento recente, mas que deve ser monitorado de perto tanto pelos importadores brasileiros quanto pelos produtores nacionais.
Ainda que o volume atual não se compare ao de grandes parceiros comerciais, o ritmo de crescimento sugere que o Chile pode conquistar espaço em nichos específicos do mercado brasileiro, principalmente em produtos industrializados de maior valor agregado.
Resta saber se o setor lácteo brasileiro está preparado para lidar com essa nova variável e quais serão as estratégias para equilibrar o abastecimento, garantir competitividade e manter o protagonismo da produção nacional.
Valéria Hamann
*Com informações de Consorcio Lechero