Demanda por proteína adicionada agita o agro e o setor lácteo no Brasil
08, julho, 2025
A febre global das proteínas adicionadas chegou de vez ao Brasil e está transformando o agro, a indústria láctea e o comportamento do consumidor.
Se antes esse movimento parecia restrito às academias e influenciadores fitness, hoje já movimenta bilhões, influencia portfólios de gigantes da alimentação e acelera a busca por leite de maior qualidade.
De barrinhas e iogurtes a snacks, refrigerantes e até pipocas e risotos, a proteína adicionada virou tendência consolidada nas prateleiras, nos aplicativos de delivery e, agora, também nos investimentos.
Segundo dados da Euromonitor, o mercado de produtos com proteínas adicionadas já movimenta R$ 2 bilhões por ano no Brasil. O impulso vem da busca por saúde, envelhecimento ativo, alta nas atividades físicas e o boom de medicamentos para emagrecimento, como o Ozempic, que exigem maior reposição proteica.
Leite com mais sólidos: prioridade no campo
Esse movimento está gerando impactos diretos no campo brasileiro, especialmente no setor lácteo. Segundo Andrés Padilla, analista sênior do Rabobank, há uma mudança clara de paradigma: “A indústria, no mundo todo, incentiva o produtor a elevar o teor de proteínas do leite. Aqui, não é diferente”, afirma.
Hoje, a maior parte da proteína adicionada usada no Brasil, principalmente whey protein, ainda é importada. Dados da Secretaria de Comércio Exterior apontam que as compras de concentrados de proteínas e complementos alimentares cresceram 38% entre 2023 e 2024.
Para reduzir essa dependência e aproveitar a tendência, indústrias brasileiras correm para qualificar a produção nacional. Exemplo disso é a nova fábrica da Piracanjuba no Paraná, dedicada à produção de WPC (concentrado de proteína do soro do leite) e WPI (proteína isolada do soro) e fábrica Whey Brasil do consórcio de laticínios queijjeiros, recém inaugurada no Rio Grande do Sul.
“A suplementação de proteínas não tem volta. Estamos investindo na cadeia para atender essa demanda”, afirma Wesley de Pádua Barbosa, diretor de Nutrição da Piracanjuba.
O desafio passa, principalmente, pelo teor de sólidos do leite. Enquanto o leite da Nova Zelândia tem, em média, 14,5% de sólidos e o dos Estados Unidos, 13,5%, o Brasil segue com cerca de 12%.
Segundo Marcel de Barros, CEO da Tirolez, melhorar esse índice exige investimento em alimentação, manejo e genética do rebanho. “Houve avanços, mas tímidos. Precisamos acelerar”, diz.
Programas para valorizar o produtor
Grandes indústrias como Danone, Nestlé e Piracanjuba já mantêm iniciativas para estimular os produtores. A Danone oferece a Jornada Flora, que concede crédito e insumos com desconto, além de bonificações de até R$ 0,20 por litro para quem entrega leite com maior qualidade.
A Nestlé, com o programa Regenera, também aposta na qualificação e na agricultura regenerativa. Já a Piracanjuba opera o ProCampo, iniciativa que será ampliada com a nova planta de proteínas no Paraná.
Consumo explodindo e oportunidades no agro
Nos Estados Unidos, o consumo de proteínas adicionadas não para de crescer. Pesquisa da Cargill revela que 61% dos americanos aumentaram o consumo desses produtos em 2024, enquanto 63% buscam ativamente snacks com proteína.
Esse fenômeno se reflete no Brasil. Segundo o Radar Scanntech, as vendas de barrinhas de proteína cresceram 20% nos primeiros cinco meses de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Já as embalagens de bebidas proteicas tiveram alta de 9,7% em 2024, conforme dados da Tetra Pak.
Empresas como Nestlé Health Science e Danone ampliam portfólios. A Nestlé destaca as linhas Nutren Senior e os capuccinos proteicos Nescafé. Já a Danone aposta em YoPRO, Nutridrink e Danone Mais, monitorando a proteína como tendência estratégica.
“O Brasil ainda está atrás em comparação a mercados como EUA e Europa, mas o potencial de crescimento é enorme”, afirma Gustavo Alvarez, diretor de Pesquisa e Inovação Latam da Danone.
Proteína também é negócio
Além da transformação no campo e na indústria, o interesse pelas proteínas adicionadas já atrai investidores. A gestora Moriah Asset, especializada em wellness, aplicou R$ 2 milhões na rede We Protein, focada em smoothies de alta performance. A meta da empresa é faturar R$ 7 milhões ainda em 2025.
Outro nome forte é a Rebels Ventures, de Rony Meisler, fundador da Reserva, que investiu na Guday, marca de “gummies” com creatina.
Até laticínios como o Grupo São Vicente planejam aquisições de olho nesse mercado, enquanto a Probiótica, fabricante nacional de whey protein, fechou parceria com a rede Boali para uma linha de shakes proteicos.
Mercado global de trilhões
O Global Wellness Institute aponta que o setor mundial de saúde e bem-estar já movimenta US$ 6,3 trilhões — quatro vezes mais que a indústria farmacêutica. A expectativa é atingir US$ 9 trilhões até 2028.
No Brasil, o mercado de wellness somou US$ 96 bilhões em 2024, colocando o país na 12ª posição mundial, com amplo espaço para crescer.
Para o agro brasileiro, especialmente o setor lácteo, essa tendência representa muito mais do que moda: é uma oportunidade concreta de agregar valor, melhorar a qualidade do leite e fortalecer toda a cadeia produtiva.
Fonte: baseado em notícia da eDairynews, 02 de julho de 2025